quinta-feira, 24 de junho de 2010

I have long walked by your side

Knight:  Who are you? 
Death: I am Death. 
Knight: Have you come for me? 
Death: I have long walked by your side. 
Knight: So I have noticed. 


domingo, 13 de junho de 2010

le mépris



je te méprise.
voilà le sentiment que j'ai pour toi.
c'est pour ça que je ne t'aime plus.


je te méprise.
Et tu me dégoûtes quand tu me touches.

terça-feira, 1 de junho de 2010

september, come take this heart away


"filho da puta. maldito filho da puta."

os passos ainda ecoavam, cada vez mais distantes, trazendo de volta o silêncio absoluto dos últimos tempos.

"dessa vez você me pegou, não é? maldito."

o som dos passos já desaparecera ao longe, misturando-se a alguns bipes, tosses e outros ruídos que, com o tempo, haviam se tornado imperceptíveis. o silêncio.

misturado ao branco absoluto das paredes, móveis, e até roupas de cama, aquele silêncio evocava ainda mais a sensação de vazio.

o silêncio, um mundo branco, sem cores, sem ruídos. tudo distante. a solidão. os dias que passavam sem um relógio que marcasse as horas, sem obrigações, sem compromissos ou necessidades. angústia. ou paz?

82 anos, era isso que o maldito demorara para finalmente conseguir.

"mas agora éramos só eu e ele, não é?"

talvez.
há muito tempo negava sua existência, mas nos últimos tempos, era pegar ou largar. e assim fazia minha concessão e se pegava fazendo alguns pedidos.

"deus, seu velho maldito.
me venceu pelo cansaço. me recuperou pela solidão.
82 anos, e agora estamos frente a frente, só eu e você."

no exato instante em que o médico terminou de falar, com o semblante abalado, deu um leve sorriso.

"2 semanas? é isso que me resta?"

o doutor o fitava assustado, sem saber como reagir a essa confrontação sarcástica.

"2 semanas pra eu aproveitar! é tanta coisa pra fazer que eu não sei por onde começar. acho que vou continuar nessa rotina das últimas semanas. acordar, dormir, acordar e dormir de novo. o que acha? um bom jeito de se gastar essas duas semanas finais? aposto que você não faria melhor, hein!".

O doutor permaneceu ali, calado, por mais alguns instantes. então, cabisbaixo, se retirou.

Sentiu a primeira lágrima escorrendo pelo rosto.
Outra lágrima.

Com aquelas poucas frases do médico, estava feito. Os 82 anos batiam sofregamente a porta, como quem chega atrasado para um encontro.

As últimas duas semanas do paciente de prontuáro nº 09502 foram atípicas. não reclamou mais do serviço das enfermeiras; não jogou mais na cara do médico os 70 mil cobrados por uma cirurgia; muito menos insinuou que o convênio não cobriria a operação; também não comentou que desistira de levantar fundos para esse último recurso ao saber que tinha 10% de chances de funcionar; não questionou os 14 dias do prazo final, nem a famosa frase "trataremos de deixá-lo confortável".

ao final do 14º dia, se foi, após cerca de duas horas respirando com dificuldade cada vez mais evidente. exatamente ao fim das duas semanas, como que para deixar para o médico a sensação de que, se nada podia fazer para ajudá-lo, pelo menos no diagnóstico final não poderia ter sido mais preciso.

foram 14 dias de paz.

a frase detonara dentro dele a última e libertadora certeza. quando o silêncio voltou, após a última lágrima secar, ele soube. estivera sozinho, o tempo todo. aquela presença que sentira, aquele velho que ria de dua desgraça; nunca existira. era apenas uma vã forma de esperança, uma ilusão que a perspectiva de alguma saída obscura lhe pregara.

confrontado com a realidade, ela se esvaiu no ar.
assim como, ao final do 14º dia, sua existência se perdeu.

não em um inferno, ou um céu.
apenas um nada absoluto.
como se aquelas longas semanas no quarto branco, silêncioso e vazio fossem uma espécie de purgatório que já tentava precavê-lo do próximo passo.

o vazio.